Sua empresa homenageou as mulheres da organização no dia 8 de março, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher?

Se sim, saiba que, mais do que celebrar a data, é preciso compreender o papel da representatividade feminina na empresa. Afinal, não há melhor forma de homenagear as mulheres da organização do que reconhecer o seu valor e fomentar suas conquistas. 

Principais aprendizados deste artigo:

  • Mesmo apresentando as mesmas habilidades e competências do que os homens que ocupam o mesmo cargo, as mulheres ainda ganham salários menores e são minoria nos cargos de liderança.
  • Os estereótipos de gênero frágil e altamente emocional que as mulheres vendedoras carregam podem explicar o porquê de não serem reconhecidas como grandes negociadoras, racionais, estratégicas, perspicazes e persuasivas. 
  • Entre as 500 maiores empresas americanas, as que têm liderança feminina apresentam um desempenho muito bom ou melhor em tempos de crise. 
  • Ter mentoras é essencial. Não existe ferramenta mais poderosa do que uma aliada que a ajudará a passar por desafios e superar receios. Saiba mais sobre os desafios de vendas em: Desafios de vendas no dia a dia do vendedor

Neste artigo, vamos falar mais sobre a representatividade feminina em vendas e no mundo corporativo, e sobretudo, qual o papel dos aliados e das empresas no enfrentamento de preconceitos de gênero no ambiente de trabalho.

Para isso, contamos com a contribuição de Jéssica Paraguassu, CEO e fundadora do Mulheres no Comando, uma plataforma de desenvolvimento de carreiras e networking feminino que tem como propósito empoderar mulheres no universo corporativo.

Além disso, Jéssica é Top Voice do LinkedIn e possui vasta experiência com vendas e liderança. Em conversa com o time do Agendor, ela compartilhou conosco os desafios e os gargalos que as mulheres encontram nas empresas até os dias de hoje.

Continue a leitura do artigo para conferir tudo sobre essa troca!

Qual é o cenário atual?

Há quem não acredita na relevância do tema, mas é preciso questionar a razão pela qual as mulheres ocupam somente 38% dos cargos de liderança, mesmo tendo níveis de instrução maiores do que os homens

E mesmo sendo mais qualificadas, por que será que as mulheres ganham 22% a menos do que os homens que ocupam os mesmos cargos, e realizam as mesmas funções?

É impossível olhar para esses dados e não contestar a postura das empresas quanto a posição das mulheres que as ocupam e que são parte fundamental do crescimento dos negócios. 

Sem dúvidas, há uma série de motivos que levam as organizações a apresentarem disparidades como essas, e eles envolvem questões históricas e sociais. 

Fato é que as mulheres demoraram muito para terem o direito de trabalhar fora de seus lares. Prova disso é que os direitos trabalhistas sem distinção de gênero passaram a ser reconhecidos somente em 1932 pela Constituição

Pensando na longevidade da história da humanidade, essa conquista não ocorreu há muito tempo.

Até então, os homens eram vistos como os provedores, enquanto as mulheres permaneciam em casa, cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos.

Infelizmente, isso gerou um viés que se perpetua até hoje. 

Quem nunca ouviu (ou disse) que as mulheres são muito sensíveis e que “deixam o coração falar mais alto, perdendo a sua razão”?

Talvez seja por esse estereótipo de gênero frágil e altamente emocional que as mulheres, principalmente as que atuam com vendas, não são reconhecidas como grandes negociadoras, racionais, estratégicas, perspicazes e persuasivas

Um efeito disso? Menos confiança para delegar grandes negociações e oferecer cargos de diretoria às mulheres.

Jéssica: As empresas estão, sim, mais engajadas com isso, mas ainda estamos muito no início. Em termos de número, o resultado ainda não é tão positivo quanto gostaríamos.

A pandemia teve um efeito muito negativo também nesse quesito. O Gender Gap, do Fórum Mundial Econômico, que olha para equidade de gênero no geral, mostrou que, devido a pandemia, saímos de 99 anos para 136 anos de atraso para alcançar a equidade de gênero.

Apesar disso, a pandemia ajudou a disseminar a sobrecarga da mulher. As pessoas começaram a ver na prática a realidade das mulheres que conciliavam os filhos, as tarefas domésticas e o trabalho.

Por isso, em termos de discussão é possível falar que evoluímos e temos uma abertura bem grande dentro das empresas. Mas as empresas ainda não enxergam isso como estratégia. Esta é somente uma pauta que elas precisam dizer que estão abordando mas entre falar e fazer existe uma grande jornada.

Abaixo nós falaremos mais sobre as consequências desses estereótipos e como contorná-los nas empresas. Continue com a gente!

Os desafios e estereótipos enfrentados pelas profissionais de vendas

Jéssica: Comecei minha carreira em vendas trabalhando como SDR, e tive uma trajetória em vendas muito rápida. Eu sempre fui muito determinada, e queria estar sempre no topo do ranking. Como eu sempre tive essa garra de empreendedora, eu sempre batia minhas metas e tinha ótimos resultados.

Só que, ao mesmo tempo, eu era muito criticada por essa postura. Era tida como agressiva e acreditavam que eu não deveria me comportar como eu me comportava. Eu era frequentemente questionada pelos meus resultados, e já ouvi coisas como “Mas com essa foto do WhatsApp, óbvio que você vai vender mais”.

Ainda assim, em menos de três anos eu passei de SDR para Head de Vendas, e à medida que eu fui crescendo em minha carreira, eu fui entendendo que ocupar certos cargos era mais e mais difícil.

Eu comecei a entrar em salas cada vez mais masculinas, passei por mais situações de assédio, e quanto mais eu evoluía na minha jornada profissional, mais eu era subestimada, e era menos levada à sério, simplesmente pelo fato de ser mulher.

O que Jéssica pontua em sua experiência faz parte de um contexto muito comum nas organizações. 

Uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão revelou que para 92% dos entrevistados, mulheres sofrem mais situações de constrangimento e assédio no ambiente de trabalho que os homens.

Além disso, o levantamento também mostra que, dentre os trabalhadores que tiveram seu trabalho excessivamente supervisionado, 40% também são mulheres e 16% são homens.

As mulheres vivenciam ocasiões completamente desconfortáveis por conta de vieses sobre o gênero. Por serem vistas como fracas ou, até mesmo, não qualificadas o suficiente, são submetidas a várias interrogações sobre seus resultados e competências.

Em vendas, Jéssica deu exemplo clássico. O resultado de vendas, em seu depoimento, poderia ser explicado por uma foto no WhatsApp, e não pela sua alta capacidade de negociação e profissionalismo para bater suas metas.

Você já ouviu esse tipo de fala direcionada a um homem? Muito provavelmente não. 

Essa pode ser uma das razões que explica a falta de representatividade feminina em vendas e na empresa, no geral.

As mulheres não conseguem chegar ao ponto não por falta de competência, mas porque seus líderes não reconhecem o seu trabalho.

Leia também: Dicas de empreendedorismo feminino: 15 recomendações para fazer a sua empresa decolar

A importância da representatividade feminina 

Jéssica: Em certo momento da minha carreira eu iniciei um novo negócio focado em formação de vendedores para ajudar profissionais que estavam iniciando suas carreiras a entrar no mercado digital.

Inclusive, o Agendor foi a primeira empresa que acreditou no projeto e nos apoiou nessa construção. 

Eu sentia que as mulheres que participavam desse treinamento me viam como uma referência que elas não tinham em vendas. Eu era a única mulher lecionando a formação, a maioria eram homens.

Isso foi plantando uma sementinha dentro de mim sobre representatividade feminina. Quando eu assumi como head de vendas e fomos trabalhar em um coworking, comecei a conversar com outras profissionais mulheres sobre os desafios do meio corporativo quanto ao gênero, e percebi que não era a única. 

Foi então que eu criei um evento chamado “Mulheres no comando: o que nunca te disseram sobre chegar ao topo”, que basicamente era uma dúvida pessoal, era o que eu precisava saber para alcançar meus objetivos.

O evento foi um sucesso total, e neste momento eu percebi que não estava sozinha. A partir daí eu tomei a decisão de construir um negócio sobre isso. Eu não tinha ideia de como iria funcionar, mas eu tinha esse propósito.

Para isso, eu tive uma mentora muito importante, em quem eu me inspirava, que me ajudou nos primeiros passos do Mulheres no Comando. 

Hoje, o propósito do Mulheres no Comando é ajudar o mercado a aumentar a representatividade feminina em altos cargos de liderança.

Fazer parte de uma empresa que tem baixos índices de mulheres na liderança faz com que as mulheres sintam dificuldade para reconhecer suas habilidades de gestão e perceber que esses espaços podem, sim, ser ocupados por elas.

É por isso que a representatividade importa. Isso significa que reconhecer outras mulheres fomenta a motivação de outras, que se inspiram nesses modelos para conquistarem os lugares que merecem. 

E mais do que isso: ter uma alta representatividade feminina na empresa demonstra baixas barreiras da empresa para reconhecer e valorizar esses talentos. 

Processos seletivo de vendedores: como os vieses inconscientes podem atrapalhar a representatividade feminina em vendas

Jéssica: São muitas as disparidades em um processo seletivo para vendedores, para homens e mulheres. A questão dos vieses inconscientes acabam sempre falando mais alto. 

Quando você pensa em um head de vendas com comportamento mais enérgico, com o espírito “vamos pra cima”, extremamente analítico e estratégico, automaticamente você imagina um perfil mais masculino.

E mesmo quando você é mulher e apresenta exatamente este perfil, assim como eu, você é vista como a “difícil de lidar”, agressiva, e muitos estereótipos negativos. Já o homem, nestas condições, não é agressivo mas, sim, assertivo.

A questão da maternidade também é sempre um fator nos processos seletivos. 

Você nunca vai ouvir um homem ser questionado sobre seu planejamento familiar ou sobre quando ele planeja ter filhos, e esta é uma realidade para muitas mulheres dentro dos processos de recrutamento. 

Ao invés de abordar essas questões, faça perguntas que realmente importam. Veja quais são as perguntas essenciais para entrevista de vendedores:

5 perguntas essenciais para entrevista de emprego para vendedor

3 pontos que contribuem para a mudança de paradigmas

Jéssica nos apresentou três ações que devem ser incorporadas para a mudança de cenário aumentando assim a representatividade feminina nas empresas. Entenda quais são:

1. Rede de apoio formada por mulheres

Jéssica: Em primeiro lugar, devemos passar uma mensagem clara para as mulheres, para que elas entendam que são protagonistas da própria história, e para acreditarem no poder dessa transformação.

Temos um papel importante nisso. Mas além de acreditar, é preciso reconhecer que não estamos sozinhas e devemos dar as mãos para avançar.

Sempre brinco e digo que sou fruto do meu próprio produto. O Mulheres no Comando tem uma base de mentoras com mais de 350 executivas de grandes empresas, e elas me ajudam muito. Eu não seria quem sou hoje sem o apoio de todas as mulheres. 

É essencial ter uma comunidade, ter mulheres ao seu lado te apoiando. Isso é muito forte e é uma mensagem que eu quero divulgar pelos quatro cantos do mundo. 

2. Consciência de gênero

Jéssica: Gênero não é um assunto de mulheres. As mulheres não devem ser as únicas a falar sobre isso, e mesmo os homens, que falam em uma posição de privilégio nesse assunto, também têm o seu lugar de fala. 

Mesmo estando em um lugar de privilégio, esses homens devem conversar sobre o assunto, e principalmente, se posicionar sobre isso. E por que? Porque eles são a maior parte da representatividade de pessoas na liderança atualmente.

Se não tivermos aliados que estejam dispostos a reconhecer isso e melhorar essa situação, ficaremos em um cabo de guerra e jamais conseguiremos avançar. 

Os estereótipos de gêneros são prejudiciais tanto para mulheres quanto para homens também, que possuem seus sentimentos reprimidos por conta do estereótipo da masculinidade.

3. Representatividade feminina como uma estratégia de negócios

Jéssica: O mercado deve se reestruturar para entender que as mulheres podem e devem estar em posições de liderança, e não porque é bem-visto socialmente, mas porque faz parte de uma estratégia de negócios que leva as empresas a perderem dinheiro por não terem uma representatividade feminina na liderança. 

A mensagem que passamos diariamente para as empresas é: equidade é um assunto de negócios, e preconceito traz prejuízo. 

Uma afirmação completamente assertiva, visto que a diversidade de gênero é comprovadamente lucrativa.

Um estudo da Peterson Institute for International Economics mostrou que 30% das lideranças femininas são mais lucrativas e conseguem aumentar mais de 1% da sua margem de lucro em comparação àquelas que não têm líderes femininas.

E para contribuir com essa declaração, uma pesquisa da Harvard Business Review aponta que, entre as 500 maiores empresas americanas, as que têm uma mulher como CEO apresentam um desempenho muito bom ou melhor em tempos de crise. 

Para mais, um levantamento do Workplace revela que existe um aumento de 21% nas chances de obter mais lucratividade quando a força de trabalho é diversa. 

Como as mentorias e os treinamentos para mulheres ajudam no desenvolvimento profissional?

Jéssica: Os programas criam ambientes seguros para discutir e trazer relatos de situações que vivemos. Um ambiente misto pode ser desconfortável para compartilhar essas situações.

Hoje falo com muita tranquilidade dos assédios que vivi e das situações que passei porque isso não me afeta mais, dentro da posição que estou. Mas quando eu era vendedora ou head de vendas, eu tinha medo de abordar esse tema porque poderia ser mal-interpretada, demitida, ou ter minha carreira prejudicada. 

Quando criamos esses espaços de confiança para que as mulheres possam compartilhar o que elas vivem e o que elas sentem, em primeiro lugar, é libertador. 

Em segundo lugar, as mulheres podem tomar consciência e ressignificar determinadas situações que ela viveu. 

O mais importante, contudo, é fazer com que elas entendam que não estão sozinhas, e que as adversidades que encontram no mercado de trabalho não são normais. 

Um dos feedbacks mais positivos das empresas com as quais trabalhamos é que conseguimos criar uma conexão e uma comunidade entre as mulheres dentro das empresas, que as ajuda a se sentirem mais preparadas e fortes para lidar com os desafios do mundo corporativo. 

Ter mentoras é essencial. Não existe ferramenta mais poderosa do que uma aliada que a ajudará a passar por desafios e superar receios. 

Uma mentora fará você questionar questões pessoais, e pegar na sua mão e te direcionar para caminhos menos turbulentos para conquistar seus objetivos, sem contar que você terá alguém para compartilhar suas dificuldades e seus medos, o que colabora para encontrar mais força para lidar com os desafios. 

A questão é que, como mulher, as pessoas sempre vão te tratar de um certo modo. Se você não tiver conhecimento sobre o que você é, e deixar que o mundo dite sua capacidade, você terá muita dificuldade de construir a sua carreira. 

E se precisar buscar mentoras e iniciar a construção de uma rede, aconselho utilizar o LinkedIn e ser um pouco “cara-de-pau” para não ter vergonha de contatar essas mulheres.

Como avaliar a equidade de gênero nas empresas?

Jéssica: Aqui no Mulheres no Comando, os indicadores que avaliamos nas empresas são: equidade salarial, políticas internas, interseccionalidade e pipeline de liderança. Realizamos uma pesquisa para entender a identificação dos colaboradores, e fazemos perguntas qualitativas cruzando as informações com os quatro pilares que citei.

Quando você quer criar uma transformação cultural, as pessoas precisam saber que a empresa está construindo isso. Ela deve incluir toda a empresa nessa transformação, e para isso, incluímos todos da organização nesta pesquisa. 

Cada um desses indicadores gera um score, e no futuro podemos usá-los para analisar os níveis de evolução da organização dentro da pauta.

Também é gerada uma pontuação final para a empresa. Dependendo dessa nota, ela receberá um certificado de equidade.

No evento Diálogos de Equidade, do dia 15 de março, lançaremos este produto oficialmente. Além disso, trazemos diversos convidados, não apenas mulheres, justamente porque entendemos que equidade de gênero não é um assunto exclusivamente feminino.

Traremos uma discussão muito além do gênero, e apresentaremos nossos cases de sucesso para que as empresas que trabalharam conosco para mostrarem o que estão construindo, e para que outros negócios tenham uma referência do que efetivamente pode ser feito para esta pauta.

Este evento é a oportunidade perfeita para aprofundar seus conhecimentos sobre a importância da diversidade nas empresas, compartilhar ideias, dicas, tendências e dialogar abertamente sobre a representatividade feminina e equidade de gênero.

Para saber mais e garantir o seu ingresso, basta acessar este link!